AIniciado há três anos, o projeto consumiu até agora R$ 11,3 milhões em investimentos. O protótipo foi finalizado há um ano e está em exposição na entrada do Museu Oscar Niemeyer, um dos pontos turísticos da cidade. A frente do negócio está o engenheiro civil João Carlos Boscardin, de 40 anos, filho do ex-fabricante de planadores João Carlos Pessoa Boscardin, também engenheiro civil.
O pai tomou gosto pela aviação no inicio da década de 70, mesma época em que Ozires Silva, amigo da família, comandava os primeiros passos da Embraer. O empresário usou o barracão que abrigava a serraria para fazer 185 planadores do modelo Quero-Quero, para um passageiro, e 80 do Nhapecan, de dois lugares. Também fez 15 unidades do IPE 06, que levava motor de Fusca e era mais simples que a nova versão, que tem motor importado dos Estados Unidos.
Dificuldades financeiras levaram a uma mudança de rumo nos anos 90, quando o filho passou a fabricar barcos, atividade que ajudou a equilibrar as contas. Há três anos Boscardin conseguiu um parceiro americano do Texas, cujo nome é mantido em segredo, e voltou para a aviação. “Meu pai era mais sonhador. Sou pé no chão”; afirma, após exibir projetos que incluem a mudança da empresa para Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, negociações para a exportação de aviões para os Estados Unidos e a criação de uma linha de montagem para aviões agrícolas.

“Temos um distrito industrial e estamos disponibilizando uma área para eles”, informou Valfrido Prado, prefeito de Quitandinha, também da região de Curitiba e cotada para receber a fábrica de aeronaves voltadas para a agricultura. “A empresa desenvolve uma atividade que contribuirá com o desenvolvimento industrial do município”, disse Clair Souza, secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Largo, que poderá abrigar a unidade de produção dos 06A e uma pista de pouso, que não pode ser construída no endereço atual. Isso exige que a aeronave saia desmontada até o local de vôo. O próprio Boscardin se encarrega de fazer os testes no ar.
O modelo ainda não foi homologado e é apresentado como experimental Para chegar até ele, pai e filho usaram como base aviões já consagrados
no mercado. “Não inventamos nada”; disse Boscardin. Técnicos do Ibama do Rio Grande do Sul também colaboraram com o projeto e pretendem usar o produto em trabalhos de aerofoto para reconhecimento de áreas.
“Em 2003 fizemos contato com fabricantes de pequenas aeronaves do país e a Ipe nos deu resposta positiva para o que precisávamos’; contou Tito de Paula Couto, geógrafo do Núcleo de Unidades de Conservação do Ibama naquele estado. “Consideramos esse avião um pouco nosso filho e nossa intenção é começar a usar um deles em caráter de experiência”.
Voltado principalmente para treinamento e observação, o 06A será oferecido aos clientes por cerca de US$ 100 mil — motor e painel respondem por quase metade disso. Quando as negociações com os Estados Unidos forem concluídas, primeiro serão enviados aviões completos, mas depois a intenção de Boscardin é enviar kits sem motorização, para montagem pelo comprador.
Se tudo sair como planejado, Boscardin espera pagar o investimento feito até agora em um ano e meio. Mas ele já está atrás de financiamentos ou parceiros para viabilizar a unidade agrícola, que exigirá aplicações de R$ 15 milhões para montar 10 aviões por mês. Também planeja aumentar o número de funcionários, hoje a equipe é formada por 15 homens, sendo que um deles trabalha com a família há 35 anos. “O mercado de aviões leves e agrícolas está crescendo e estaremos prontos para atender a procura”, disse o empresário.