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Gazeta do Povo
Economia
Segunda-Feira, 16 de Maio de 2005
Pagina 15
Fábrica Paranaense anuncia produção
de aviões na China
Cinthia Scheffer
Fundada na década de 70, a IPE Aeronaves se prepara
para voar mais alto e entrar no mercado
internacional de aviões. A empresa paranaense acaba
de assinar um acordo de cooperação mútua com a China
para instalar uma fabrica na cidade de Shenyang
dentro de três anos. Além disso, investe R$ 11
milhões no desenvolvimento do seu primeiro avião
comercial, o IPE 06A. O objetivo é abocanhar um
fatia do mercado nacional.
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Fábrica de Curitiba investe R$ 11 milhões no desenvolvimento do
IPE 06A
A Ipe Aeronaves poderá produzir até quatro aeronaves por mês
Curitiba – Um barracão com muros altos abriga uma improvável
fábrica de aviões no bairro Bigorrilho, na capital paranaense.
De lá devem sair, nos próximos meses, os primeiros aviões
comerciais da IPE Aeronaves, fundada na década de 70 para a
fabricação de planadores. Este ano a empresa entra no segmento
comercial com a produção IPE 06A, avião da categoria leve para
dois lugares. Ao mesmo tempo em que comemora a conclusão das
primeiras unidades comerciais, a Ipe começa os estudos para a
instalação de uma fábrica na cidade de Shenyang, na China. No
fim de abril, a empresa assinou um acordo de cooperação mútua
com o Conselho Chinês para o Comércio Internacional, na qual o
governo do país confirma a intenção de instalar a unidade
fabril.
“Sem um convite como esse, nenhuma empresa estrangeira consegue
se instalar na China”, comemora o atual diretor da empresa, João
Carlos Boscardin. “Vamos à China em agosto para acertar alguns
detalhes e começar o projeto para a instalação da unidade.”
Segundo o empresário, o acordo tem validade de três anos, prazo
em que devem iniciar as operações da fábrica.
O projeto nacional, no entanto, já começa a colher os primeiros
resultados, depois de cerca de dois anos de estudos. A
fabricação do 06A ultrapassou a marca dos R$ 11 milhões em
investimento. “O projeto é resultado da experiência. Passamos
por todas as etapas da aviação na ordem natural de crescimento
de uma empresa aeronáutica.”
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Para o empresário, o 06A chega a um mercado com grande
potencial de consumo em diversos segmentos. O principal
deles é o de aeronaves de instrução, para treinamento de
pilotos civis e militares. “A aviação civil mundial cresceu,
mas a de pequeno porte não acompanhou. Parece que não se
levou em conta que o bom treinamento de pilotos começa com
planadores e aeronaves leves”, diz Boscardin. Segundo o
empresário, nos próximos três anos o governo federal também
deve precisar substituir os aviões que usa atualmente no
treinamento militar, comprados nos anos 80 de uma fábrica
argentina.
O IPE 06A pode ser usado para observação e vigilância.
Segundo o empresário, tanto o Ibama como outros órgãos
ambientais já demonstraram interesse em utilizar esse tipo
de aeronave para estudos de grandes extensões de terra. “Há
também um mercado particular, que precisa fazer a vigilância
de grandes propriedades, por exemplo.” |
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A aeronave deve ser oferecida aos clientes por US$ 100 mil. “Mas
o 06A é bastante versátil, e o preço pode variar conforme o
motor e os equipamentos utilizados”, diz. Segundo o empresário,
o valor é cerca de 30% menor do que aeronaves similares. O baixo
custo das horas voadas – cerca de R$ 150 – também deve ser, para
o empresário, um diferencial importante na conquista do mercado.
“O gasto com um helicóptero hoje, por exemplo, chega a R$ 3 mil
por hora.”
A expectiva da Ipe é, até julho, finalizar uma aeronave por mês.
Porém, se o mercado consumidor colaborar, a empresa tem
capacidade para produzir quatros IPE 06A a cada 30 dias.
“Acredito que o interesse é muito grande, inclusive em outros
países da América Latina”.
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AMPLIAÇÃO
Linha de produção pode ir para região metropolitana
Entre os projetos da Ipe Aeronaves está a transferência da sede,
na região central de Curitiba, para alguma cidade da região
metropolitana de Curitiba. “Queremos ampliar a linha de produção
e construir uma pista de pouso ao lado, já que aqui não tem
espaço”, diz o diretor da empresa João Carlos Boscardin. Hoje os
aviões prontos precisam ser desmontados e levados até uma pista
para os testes.
O espaço que a fábrica ocupa hoje abrigava, no passado, a
serralheria da família. “Aos poucos meu pai começou a
transformá-la em uma fábrica de aviões”, conta o diretor, filho
do engenheiro civil João Carlos Pessoa Boscardin. Na década de
70, o fundador da empresa criou um projeto e participou de uma
concorrência do governo federal para a fabricação de planadores.
Foi o começo da produção do Quero-quero, primeiro modelo de
planador da empresa. “O projeto não é atualizado desde então,
mas os planadores produzidos naquela época continuam voando e
ganhando competições de vôo à vela (como é chamado esse tipo de
vôo) ao redor do mundo”, diz Boscardin.
Entre os anos de 1983 e 1989 a empresa fabricou 80 unidades de
outro planador, o Nhapecan, com dois lugares. Também nesse
período, a Ipe começou a projetar o que seria seu primeiro avião
leve, o CAP 10, em parceria com uma fábrica francesa. “Na época
tínhamos 100 funcionários. Começamos a produção tendo em vista a
carência do governo federal por aeronaves de instrução”, lembra
o empresário. O governo, no entanto, optou pela compra de
modelos importados da Argentina. A empresa demitiu boa parte dos
funcionários e passou por uma forte crise. Depois de um período
voltado para o mercado náutico, Boscardin e o pai resolveram
retomar os projetos aéreos. “Percebemos a necessidade do mercado
e começamos um projeto para desenvolver um avião com o melhor
custo benefício do mundo”, diz. A idéia começa a se consolidar
agora, com a fabricação do IPE 060A.
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