O Estado do Paraná
Economia
Domingo, 17 de Abril de 2005
Pagina 27

Chuva artificial pode ajudar
contra estiagem

Empresário defende investimento em
novas tecnologias
Lyrian Saiki


A forte estiagem que atingiu especialmente o Sul do País e provocou prejuízos de mais de R$ 5 bilhões à agricultura brasileira poderia ter sido amenizada através de uma maneira bem menos onerosa. A solução seria o projeto nucleação ou, em outras palavras, a chuva artificial. A bandeira é defendida pelo sócio-proprietário e gerente da IPE (Indústria Paranaense de Estrutura) Aeronaves, João.Carlos Boscardin. Segundo ele, o investimento de uma brigada com dez aeronaves e outros custos como combustível e pessoal somariam no máximo R$ 6 milhões o que representaria apenas 0,12% dos prejuízos estimados coma seca este ano.

 

 

“Não foi apenas o valor monetário que o País perdeu. Foi também a credibilidade, a redução nas exportações”, apontou Boscardin “É um problema em toda a cadeia, um efeito dominó”. Desde que a falta de chuva começou a preocupar os agricultores – e as cifras dos prejuízos passaram a aumentar vertiginosamente -, Boscardin começou a estudar soluções para o problema. Encontrou em um projeto elaborado em 1984 em Alagoas – quando a estiagem prolongada atingiu a região canavieira daquele estado – a base para tentar contornar a falta de chuva.
A solução, explicou, seria utilizar um avião para semear gotas de água dentro das nuvens e assim criar chuvas artificiais. O avião decolaria, entraria na nuvem e semearia as gotas d’água. Dentro da nuvem, cada gota pulverizada atrairia de um milhão a dez milhões de gotículas de vapor. As gotas cresceriam, subiriam na nuvem empurrada pelo vento e, quando atingissem de dois a cinco milímetros de diâmetro ficariam pesadas demais e cairiam em forma de chuva.
No estudo realizado em Alagoas, o índice de sucesso foi de 70%. Para Boscardin, na região Sul o índice de sucesso pode ser ainda maior. “No Sul, por causa das frentes e da posição geográfica, há mais cúmulos (nuvens aptas para a técnica)”, explicou. Ele lembrou ainda que o objetivo da nucleação não é acabar com a estiagem, mas amenizar os efeitos da seca.

 

Investimentos

Segundo Boscardin, o projeto poderia ser implementado através da formação de uma brigada composta por dez aeronaves. Um avião, segundo ele, é capaz de cobrir uma área de 40 mil hectares, e dez cobririam 400 mil hectares. O investimento inicial estimado é de R$ 6 milhões – 600 mil por aeronave -, mais R$ 120 mil em outros veículos e equipamentos. O trabalho humano seria desempenhado por dez pilotos com experiência em vôo por instrumento, dez auxiliares de campo, um auxiliar mecânico, dois engenheiros agrônomos, dois técnicos agrícolas, um meteorologista, que custariam aproximadamente R$ 94 mil por mês. Além disso, a operação por hora de vôo é estimada em R$ 350,00.
“O que pretendemos demonstrar é que o custo de um avião com tecnologia nacional é ínfimo perto do prejuízo causado por uma estiagem”, afirmou. “Perdemos muito por não contarmos com equipamentos, dessa natureza”, lamentou. Segundo ele, outra vantagem do avião é que ele poderia ser facilmente adaptado para a função agrícola e atuar no combate à ferrugem asiática, por exemplo, ou na pulverização. Em Santa Catarina, a mesma aeronave poderia ser utilizada ainda para dissipar a formação do granizo, que prejudica a lavoura. Entre os possíveis interessados pelo projeto estão fundações, governo e órgãos militares, afirmou Boscardin. “O que a gente pretende é despertar o interesse para que apóiem este trabalho”, arrematou.