O Estado do Paraná
Economia
Sexta-feira, 3 de setembro de 2004
Pagina 24

Fabricante de aviões do Paraná
tenta vender para os EUA

A Indústria Paranaense de Estruturas (IPE), que produziu cerca de 300 aeronaves ao longo de 30 anos, busca espaço no mercado americano. Os Estados Unidos absorvem por ano cerca de 5 mil aviões similares ao novo modelo da fábrica curitibana, o IPE-06A.

 

 

A curitibana IPE Aeronaves se prepara para exportar seus produtos
Lyrian Saiki

A empresa curitibana IPE (Indústria Paranaense de Estruturas) Aeronaves, que fabricou cerca de 300 aeronaves ao longo de 30 anos - a maioria planado¬es - quer agora abocanhar espaço no mercado norte-americano. De acordo com o empresário João Carlos Boscardin, filho do fundador da fábrica, os Es¬tados Unidos absorvem por ano cerca de 5 mil aeronaves de modelos similares ao produzido pela fábrica curitibana - o IPE 06 A. “A gente quer pelo menos 1% desse mercado”, afirmou Boscardin.

 

Boscardin explica que foram quase três anos de pesquisas e projetos até desenvolver o IPE 06 A, cujo protótipo ficou pronto em maio e que pode ser visto, hoje, em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, fazendo parte das comemorações da Semana da Independência. No galpão da empresa, localizado no bairro Seminário, há outras três aeronaves na linha de produção que devem ser concluídas até o final do ano: uma delas ficará no Brasil, para apresentação ao IBAMA - que se mostrou interessado nas aeronaves - a outra será mandada para os Estados Unidos e - a última está ainda sem destino certo.
De acordo com Boscardin, a intenção e produzir em 2005 um avião por mês. Do total, pelo menos seis deverão ser mandados para os Estados Unidos. “Nós sempre fomos mais conhecidos lá fora do que no Brasil”, admitiu Boscardin, referindo-se a tempos passados, quando a empresa recebeu proposta de montar parceria com a França para fabricação de aviões acrobáticos.


De acordo com o empresário, o IPE-06A o mais barato no mundo na categoria. Cada unidade deverá “ser vendida a cerca de US$ 120 mil - valor inferior ao cobrado pela fábrica norte-americana Husky; que tem produto similar. “Um avião com as mesmas, características, e com design menos moderno, sai por US$ 170 mil na Husky”, afirmou. O segredo, segundo ele, é a tecnologia utilizada. “A grande receita de conseguir um avião barato é ir no limite mesmo, usar o valor agregado tecnológico”, ensinou. “Sigo o lema do meu pai: não inventar nada, apertas adaptar a tecnologia existente.”
Quando o assunto é o projeto em si, Boscardin prefere não falar em cifras. Revela apenas que deverá investir cerca de US$ 500 mil no ano que vem. O retorno do investimento, prevê, deve acontecer em até dois anos.


“É um projeto pequeno. E é melhor investir um pouco de cada vez, do que US$ 2 milhões ou US$ 3 milhões de uma só vez” A fábrica, que já teve 70 funcionários, conta agora com apenas 12, “Estamos retomando devagar”, explicou.
Entre as vantagens do IPE 06 A, o empresário cita a operação stol - que permite a decolagem e o pouso em curta distância -; a possibilidade de separar as partes da aeronave, dispensando guardá-la em um hangar; entre outras. A meta, acrescenta Boscardin, é produzir quatro unidades do IPE 06 A em 2007. A aeronave serve especialmente para o treinamento, instrução e observação. Nos USA é utilizado ainda como transporta e lazer. Na semana passada, o empresário esteve em Bras1lia, a convite do Ibama. “Para o Ibama, é mais vantajoso ter uma aeronave como esta, do que um helicóptero que custa muito mais”; apontou.


Aviação agrícola
A IPE Aeronaves está de olho também em outro mercado: a aviação agrícola. Boscardin conta que já tem o projeto pronto, e agora está em busca de parcerias. “Querendo ou não o Brasil é um país agrícola. Só há mil unidades na aviação agrícola, enquanto o necessário seriam 10 mil”, afirmou. Segundo ele, a produção da Embraer – 80 por ano – só é capaz de repor a pequena frota.
Conforme estudo elaborado por Boscardin, seriam necessários cerca de US$2 milhões para a produção inicial de dez aviões agrícolas. Em dez anos, com a produção aumentando sucessivamente até atingir 48 unidades por ano, o lucro líquido é estimado em US$16 milhões. O custo de produção seria de US$ 109 mil por unidade, e o preço final, US$ 180 mil - valor abaixo do que é fornecido pela Embraer (aproximadamente US$ 250 mil).

Produção começou há 32 anos
A IPE Aeronaves foi fundada há 32 anos por João Carlos Pessoa Boscardin - pai de João Carlos Boscardin - com o objetivo de desenvolver aeronaves leves com tecnologia própria, e a custos inferiores às importadas. Até 1985, fabricou 156 planadores do modelo Quero-Quero, com apenas um lugar, hoje espalhados por todo o País. No período de 1980 a 1990, fabricou 80 unidades de um novo modelo: Nhapecan, com dois lugares. Na época, o principal cliente era o governo federal, que comprava as aeronaves para a formação de pilotos. Em 1991,foi a vez da produção dos modelos IPE 04 e CAP 10, ambos acrobáticos. Em 1992, surgiu o modelo IPE 06, como uma tentativa de entrar no mercado de ultraleves - foram fabricadas 15 unidades.
Em 2000, a empresa verificou a necessidade do mercado norte-americano por aviões de modelo similar ao IPE 06. Foram três anos de estudos até chegar ao protótipo e iniciar a linha de produção. Atualmente, os municípios de Cornélio Procópio, Lapa, Ponta Grossa e Araucária estão oferecendo vantagens na tentativa de atrair a fábrica, instalada em Curitiba. Segundo Boscardin, a empresa pode de fato mudar de endereço. É que em Curitiba há muito trafego aéreo, que pode afetar os vôos de testes das aeronaves. (LS)